Projeto desenvolvido pela Escola de Belas Artes da UFMG e pelo Centro de Referência Áudiovisual de Belo Horizonte utiliza tecnologia do DVD para viabilizar a criação da Filmoteca Mineira.
Uma cinemateca seria o local próprio para a conservação do material que compõe uma parte da história do cinema. Ali são guardadas as cópias originais dos filmes e os documentos a eles relacionados, como os roteiros originais. Já uma filmoteca busca trazer ao alcance do público esse tipo de material, antes restrito a alguns poucos pesquisadores.
É na transição entre esses dois modelos que se encontra o projeto de criação da Filmoteca Mineira, uma parceria da Escola de Belas Artes (EBA) da UFMG com o Centro de Referência Áudiovisual (CRAV) de Belo Horizonte.“Muitas das cópias de filmes que temos aqui são com certeza as únicas que existem em todo o mundo. Principalmente no que se refere ao cinema mineiro, não há acervo como nosso”, afirma o coordenador do projeto, Luiz Nazario, professor do Departamento de Fotografia, Teatro e Cinema (FTC) da EBA.
Porém, a maioria das cópias já é bastante antiga e a película de cinema se desgasta naturalmente a cada exibição. “Para garantir a preservação, apenas alguns pesquisadores tinham acesso ao material do acervo”, conta o professor.Foi com a difusão do DVD que se esboçou a possibilidade de montar uma filmoteca virtual. Utilizando discos digitais seria possível fazer cópias acessíveis ao público, sem perda de qualidade de imagem ou perigo de desgaste do material original.
Outro obstáculo vencido foi a diversidade de formatos em que se encontravam os filmes. “Havia cópias em película, em fitas Betacam, VHS, super-8 e em outros formatos. O DVD permitiu que se adequasse tudo a um só tipo de mídia e possibilitou a montagem de uma sala para reprodução”, explica Luiz Nazario.Devido ao grande acervo disponível, a criação da Filmoteca se concentrou na produção de 10 DVDs com amostras significativas das principais categorias do acervo. O CRAV produziu quatro discos. O primeiro inclui o filme brasileiro mais antigo ainda disponível, o curta-metragem Reminiscências, do mineiro Aristides Junqueira, além de 10 animações sobre Belo Horizonte nos dias de hoje. Os outros três formam a série Memória e Cinema, composta por nove curta-metragens que resgatam a história do cinema mineiro.Os outros seis DVDs foram produzidos pela própria Belas Artes. Entre eles está o único longa metragem da coleção, o filme Canção da Primavera, lançado em 1932 por Igino Bonfioli. Os outros títulos incluem Nota 10 Belas Artes (que traz 10 das melhores animações produzidas na EBA), Flor do Caos (animação da série Trilogia do Caos) e Cineclubismo Mineiro (produções do cinema mineiro).
A transição dos filmes para DVD ocorreu de modos variados. Aqueles que estavam em película eram projetados em tela de cinema e dali a imagem era gravada por uma câmera de vídeo digital de alta definição e o som era capturado diretamente pela câmera através de uma ligação na mesa de exibição. Depois, o conteúdo das fitas era copiado para o computador, onde era trabalhado e depois finalizado em DVD. No caso de material gravado em fitas, havia a possibilidade de se copiar diretamente do reprodutor para o disco rígido do computador.O trabalho várias vezes envolvia também um processo de restauração e adaptação, além da própria cópia.
Vários filmes mais antigos tiveram que ter o tamanho de sua tela adaptado para poderem ser exibidos em televisão sem cortes na imagem. Já outros, cuja película apresentava envelhecimento, foram trazidos à tonalidade original com filtros de computador. Mas talvez o maior ganho tenha acontecido com o próprio Canção da Primavera. Nas cópias em poder da EBA o filme era todo em preto e branco. Porém, nas anotações do filme original havia a indicação de que várias cenas possuíam “viragens” ou mudanças de cor. “Havia cenas amarelas, vermelhas. Usando essas anotações, nós conseguimos restaurar no computador o que parecia impossível antes: o filme tal qual ele tinha sido pensado originalmente”, conta Luiz Nazario.
Além dos DVDs, foram confeccionados quatro catálogos com todas as informações sobre os filmes e documentos da cinemateca e da biblioteca da EBA. Entre esse material se encontra um catálogo de roteiros originais, que inclui roteiros de filmes como Macunaíma.Com a tecnologia e a técnica já disponíveis, o projeto Filmoteca Mineira aguarda agora por mais recursos que possibilitem sua continuidade. Todo o material já produzido estará disponível na Biblioteca da EBA e no CRAV para acesso público, dando por iniciada a Filmoteca.