quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Artigo - A tv digital do Brasil.

Afinal, o que é tv e o que é digital?

Por Ana Beatriz Goulart Pereira*

O que é Tv Digital e quando surgiu esse termo, onde?
Falar com precisão sobre a Tv Digital, mesmo depois de oito anos do termo ter chegado ao Brasil, parece ainda complicado para os brasileiros, mesmo para os que vivenciam o ambiente acadêmico com foco na área tecnológica ou comunicação. A bibliografia é escassa e as fontes ainda, em sua maioria, são veículos da mídia de massa ou especializados, impressos ou digitais, onde normalmente vêm com explicações técnicas, discussões científicas sobre os sistemas de transmissão mais eficientes a serem adotados na primeira fase em que se falou sobre a Tv Digital no país, enfim. Esquecem-se de serem didáticos e, por muitas vezes, de definir minimamente o que é a tal “Tv Digital”?

Em uma entrevista com o coordenador do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da USP, Marcelo Knörich Zuffo, publicada pelo Jornal da USP, através da divisão de Mídias impressas da Coordenadoria Social da USP, na ocasião da cerimônia, realizada no dia 29 de junho no Palácio do Planalto, em Brasília, para anúncio oficial da escolha do modelo japonês de alta definição para a TV digital brasileira, é possível ter uma visão exata da primeira fase da Tv Digital no Brasil e os desafios que despontam na atualidade.

Zuffo diz que o conceito de Tv Digital nasceu no Japão, quando começaram a trabalhar o conceito de Alta Definição. Os altos custos da tecnologia, segundo o pesquisador da USP, congelaram os avanços por quase 20 anos, quando ocorreram avanços importantes na decodificação multimídia, uso da internet, surgimento dos arquivos MPEG, novos tipos de monitores, como o plasma. O próprio conceito de TV Digital, nesse período, foi sendo repensado, já não se tratava mais, simplesmente, de um novo tipo de TV via monitor. Mas uma nova forma de fazer televisão também, totalmente integrada com plataformas e estruturação interativa da grande rede mundial de computadores.

Com os avanços e o grande mercado que despontava no cenário, a concorrência se acirrou, ocorrendo rupturas entre japoneses, europeus e norteamericanos, em busca da patente do novo negócio. “Desde 1995, quando os EUA patentearam a Tv Digital, japoneses e europeus saíram em busca de seus próprios caminhos”, afirma Marcelo Zuffo.

Quando a discussão começou a fazer parte da rotina do Brasil?
Desde 1998, que a USP vem trabalhando no desenvolvimento de novas tecnologias para transcodificação de Tv Analógica para TV Digital, afim de apoiar a transição dos sistemas. Além disso, vários testes foram feitos para analisar os impactos e desafios da migração, em casos isolados de um ou outro programa. No final do governo de Fernando Henrique Cardoso, em seu segundo mandato, começaram os testes e análises para reconhecimento das características de cada um dos três sistemas de transmissão do sinal de Tv Digital operacionais no mundo: o ATSC, usado nos Estados Unidos, o DVB, usado em 33 países da Europa e o ISDB T, utilizado pelos japoneses. Os testes foram feitos pelo Grupo Abert/SET, acompanhado de perto por representantes das instituições acadêmicas. O coordenador do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da USP, Marcelo Knörich Zuffo, é categórico em afirmar que as pressões dos grandes grupos eletroeletrônicos para excluir as universidades do processo são vigorosas. Para ele, em entrevista recente ao Jornal da USP, “o tamanho do mercado justifica a atenção na disputa. Em cinco anos, serão cem milhões de terminais fixos de televisores digitais, cem milhões de monitores de LCD e cem milhões de celulares com TV digital”, diz o professor.

Desde junho deste ano 2006, o Brasil já tem, definido por decreto seu novo sistema: o SBTD T, adotado segundo padrão japonês. “De acordo com o decreto que estabelece a implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre, as emissoras de TV abertas receberão automaticamente um canal digital e terão prazo de 18 meses para iniciar as transmissões – primeiramente, nas capitais e no Distrito Federal. Em sete anos, as emissoras terão que garantir o serviço em todo o território brasileiro e, em dez anos, o sinal analógico deixará de ser transmitido. Quem quiser receber o sinal digital assim que ele começar a ser emitido não precisará de um novo aparelho de televisão, mas terá que instalar um adaptador ou caixa de conversão” (Jornal da USP, junho/2006).

É oportuno migrar?
A implantação da TV Digital no Brasil vem de encontro aos inúmeros avanços ocorridos no cenário da internet, no sentido de distribuição de conteúdo audiovisual sem nenhum tipo de fiscalização. Se o país não se estrutura para adequar essa nova realidade, setores como os grandes grupos de comunicações hoje no país, indústria de eletroeletrônicos e as próprias universidades, formadoras de mão de obra especializada, tanto na área de engenharia quanto na área de produção audiovisual, não conseguem se antecipar e se preparar ao que há de vir.
O que acontece é que uma coisa puxa a outra. Decidido o sistema, abre-se precedentes para reflexão mais embasada sobre os desafios que se impõem. E são muitos, veja só: As tecnologias novas deverão fazer parte dos currículos de faculdades de comunicação, engenharia e outros envolvidos com a produção audiovisual. A academia e poder público deverão começar a discutir as alterações urgentes a serem feitas no sentido de fiscalização e aspectos legais da nova tecnologia e todas as suas vertentes na internet, por exemplo. Marcelo Zuffo chama atenção para o momento criativo que vivemos, em sua entrevista o jornal da USP. “O esforço agora não é só da ciência. Para cada cientista, vamos precisar de dez a cem engenheiros envolvidos em todo o processo de implantação – ou seja, estamos falando de 20 mil a 30 mil engenheiros. Podemos engatar um imenso círculo virtuoso, cujo único limitante é a demanda: a população que vai comprar a TV no final. Se não trabalharmos na condição do baixo custo, compatível com a renda dos brasileiros, não vai dar para escalar o processo, ou seja, começar do zero e chegar a cem milhões. Nosso foco não é só técnico, mas também econômico. O Brasil despontou como o primeiro país emergente a ter tomado uma decisão de inovação. É um processo de inovação sem precedentes”.

Portanto, se não se implanta a Tv, se impede o crescimento, o desenvolvimento e o alinhamento do país com o que já está acontecendo nas “entrelinhas” da internet e desbancando grupos de comunicação estruturados em todo o país.

Para constatar isso, basta dar uma “navegada” pela internet e perceber o que está acontecendo. O Marcelo Tass, jornalista conhecido, já tem seu próprio blog pessoal, onde mantém um programa informativo e crítico, publicado periodicamente, em arquivo MPEG. É o que chamamos de podcast. Se entramos em portais como o Porta Curtas, veremos lá, muito material em vídeo já disponível, onde nós, telespectadores, podemos selecionar o que queremos ver.

Será que já estamos treinando para um novo conceito que ainda há de vir para a Tv Digital, via PC?

Só para terminar. As redes de televisão estão antenadíssimas para este fenômeno, ainda que tenham começado a se antenar um pouco tardiamente. Todas as grandes emissoras estão com seus portais podcast na internet. Muitas exibem seus conteúdos gratuitamente. Alguns conteúdos, no entanto, só são disponibilizados para seus assinantes interneteiros, ainda que divulgados na Tv Aberta analógica. Ou seja, se você paga, você tem acesso aos conteúdos, nos mesmos moldes da TV a cabo.

Muito útil, mas se pensarmos nos 96% da população com aparelhos de Tv analógica ainda, temos um problemão: tvs de plasma, de muitas polegadas, já deixando o consumidor de nariz torcido, com medo de estar comprando tecnologia velha. Risco de encalhe na indústria eletroeletrônica. Previsão de preços para chegada da TV Digital ao mercado ainda salgando a imaginação do mercado. Aventureiros tomando a frente na internet e provocando uma mudança na maneira de fazer televisão, completamente alijada do cenário acadêmico, despontando para uma ação urgente dos cursos no sentido de acompanhar e atualizar suas grades, garantindo espaço nesse cenário aos seus futuros formandos.

Enfim, está na hora ou não está?
O que se faz na internet é tv digital?

Alguns dizem que sim. Outros não. É preciso deixar bem claro que a TV Digital é entendida no termo de tv não analógica, que exigirá um novo aparelho de televisão ou decodificador, que possui tecnologia de definição da imagem muito mais apurada, garantindo qualidade técnica aprimorada destes sinais.

Mas, na medida em que os avanços tecnológicos aumentam numa velocidade incrível, o próprio conceito vai se depurando.

Os conteúdos audiovisuais publicados na internet são chamados de podcast, como já falamos acima. Um portal de postagem de audiovisuais. Mas, vejam bem: não há nenhuma legislação que regulamente isso ainda.

Valerá para estes casos a lei das telecomunicações?

Marcelo Zuffo tem uma visão muito interessante sobre isso, que reproduzo
aqui:


“Com o decreto atual, a Lei Geral de Telecomunicações de 1962 morreu. O
radiodifusor não quer a multiprogramação, não quer a segmentação que a TV
digital permite, daí a importância da visão pública nessas definições.

Por que a TV Câmara, a TV Senado, Futura ou a TV
Justiça não
são abertas?


Para ter acesso a essas
informações públicas, é preciso pagar. A lei não dá
conta do serviço de
dados também. Se você não conseguir transmitir dados, não
terá
interatividade. Na telefonia, eu transmito dados a você. Na radiodifusão,
eu
coloco um dado e todos têm condição de receber. É claro, os lobbies da
radiodifusão não querem isso. Os radiodifusores e a indústria estão com
muita
pressa, porque querem ganhar dinheiro. Cabe a contraposição do
argumento
fundamentado contra os argumentos econômicos “de rapina”.

O aspecto regulatório do direito do consumidor em TV digital é uma
coisa
complexa. Hoje, por exemplo, quem diz que vende televisores de alta
definição
está vendendo gato por lebre. Para o lado que se olhar, a lei está
obsoleta. Nós
temos a chance histórica de consertar esses problemas. Pleitos
históricos com
critérios públicos para a concessão de canais, editais e
legislação de direito
do consumidor terão que surgir no debate que se dará
no Executivo e no
Legislativo” (Jornal da USP, junho-2006).


Se não ouvirmos esse chamado e começarmos a provocar essa discussão, grupos, debates, integração da comunicação com direito, engenharia, enfim, promover reflexão concreta aqui no nosso cenário acadêmico, as coisas vão acontecer e ficaremos alijados do processo. E depois, não adianta reclamar!


O que muda para o telespectador?
Vai depender do que dermos conta de exigir em lei.O povo só vai aderir se chegar até ele antes, se souber do que se trata, se compreender do que se trata. Ou vai, mais uma vez, só engolir, engolir.

Hoje no Brasil, o serviço de radiodifusão é uma concessão, mas já se cristalizou de tal forma, que não se cogita discutir se quer se realmente esses “permissionários” estão cumprindo os seus deveres mínimos, previsto na legislação de mais três décadas atrás.

As emissoras publicam o que querem, em nome do IBOPE. Temos uma fiscalização frouxa. Um telespectador completamente apático, indefeso em relação aos conteúdos que recebe. Ele só pode, dizem muitos, apregoando o direito de escolha, apertar o botão de liga/desliga ou mudar o canal.

Muito bem, ele pode. Mas não tem muitas escolhas, na verdade.

Nem dinheiro para ver na Tv a cabo. Também não precisa. A diversidade ainda não é o que gostaríamos, reclamam muitos, pois, afinal, muito conteúdo se repete na tv aberta e tv paga, num processo de engodo, sobre o qual ninguém reclama, fiscaliza, enfim. A Lei é velha! Mudou a tecnologia e não mudou a lei. Agora, a tv digital, se chegar ao país, já nos moldes da interatividade digital propiciada pela navegação na internet... “Aí, sim...”, se adiantarão alguns, com razão, em partes.

Hoje na internet, posso entrar no portal da Globo e, depois de um dia exaustivo, montar minha própria programação, nas próximas 4 horas. Claro, se for assinante da Globo.com, tenho acesso a boa parte dos conteúdos. Se não... Fico sujeita só ao que eles querem publicar como sendo do interesse público. Ninguém regula isso, o que deve ou não ser publicado abertamente, de graça.

Bom, já temos a possibilidade ampliada de escolha.

Mas se não tivermos conteúdos novos, de nada adianta. Parece aquele poema sobre a caridade. Tudo vai ser feito, mas se não nos anteciparmos em mudar e definir melhor as grades de programação das tvs, sejam elas abertas, pagas, digitais, podcasts: é o mesmo que nada!

A esperança, realmente, está na seriedade com que os governantes abrirem esses debates com a sociedade. A seriedade como os jornalistas enfrentarão os lobistas. A seriedade como os criativos da comunicação trabalharão novos formatos. A seriedade como os legisladores e executores da lei se posicionarão neste contexto, desestruturalizante dos velhos grupos, propício para novos pensamentos, posicionamentos para o benefício do interesse público e da nação verdadeiramente.

Então, vamos concluir e responder a muitas das questões levantadas em ambiente acadêmicos, ao longo dos últimos cinco anos, mais recentemente, com estudantes do V período de Jornalismo, do Centro Universitário Newton Paiva, na discplina Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa em Televisão, onde realizávamos um seminário sobre o livro Gêneros e Formatos de Televisão, do Luiz Aronchi.

O telespectador vai participar mais? Vai, se a rede abrir para isso, se for obrigada por lei a criar estes espaços? Vai ter acesso aos conteúdos? Vai, se a lei prever um percentual focado para conteúdos educativos, conteúdos técnicos, conteúdos de formação cidadã e conteúdos de serviço público, e, claro, mecanismos para fiscalizar depois, inclusive, se o conteúdo está sendo disponiblizado gratuitamente no computador.Vai poder montar sua própria programação? Vai, se a engenharia de software tiver acompanhado o desenvolvimento tecnológico e não ceder aos interesses dos grandes grupos. Vai chegar a todos? Vai, se o governo priorizar como ferramenta educativa o investimento na TV Digital, transformando a mesma em uma oportunidade de dar saltos integrados em todos os setores, principalmente se a TV Pública estiver envolvida também, e prioritariamente, nesse processo. E, claro, se não sucumbir aos interesses excusos ao fazer política. Os pais vão poder controlar os conteúdos na Tv interativa? Vão, se o setor de informática acompanhar o desenvolvimento tecnológico e investir em softwares de segurança adequados para tal plataforma, se os servidores se prepararem nas bandas largas para sustentar a “ carga pesada” que a transmissão de dados requer, quando falamos de audiovisual.
Enfim, já deu para perceber que não dá pra ficar parado: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come!”. Nós precisamos nos envolver mais com esse assunto, com certeza, como cidadãos. Como jornalistas, o desafio está posto! É pauta pra não fazer feio diante de nenhuma campanha apócrifa necessitada de criar dossiês às vésperas das eleições!!

Em que países já há Tv Digital?
Casos de tv digital no Brasil. ( checar....A NET já disponibilizou para São Paulo, Rio e Porto Alegre transmissões em formato digital, e em breve fará o mesmo com Belo Horizonte; os assinantes de TVs pagas serão beneficiados nesse processo? )

*Conteúdo produzido para a disciplina Técnicas em Reportagem, Entrevista e Pesquisa em Televisão, do curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva Virtual, em outubro de 2006 Belo Horizonte, por Ana Beatriz Goulart Pereira. A autora é professora universitária, jornalista e radialista com formação na UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora, especialista em marketing pelo Ibmec Business School, membro do corpo docente dos Cursos de graduação em Jornalismo, Relações Públicas e Turismo do Centro Universitário Newton Paiva, orientadora de projetos TCC e tutora na disciplina Comunicação Empresarial dos cursos
de graduação em Administração oferecidos pela Universidade Virtual Brasileira – UVB,em parceria com a Newton Paiva Virtual.

2 comentários:

Nanda Hally disse...

Museu das telecomunicações: A partir do momento que você entra em contato com mundo das comunicações, você percebe desde a pré historia que o ser humano sempre procurou viver em rede. Começou domesticando os animais e se agrupando em pequenas aldeias.
Com a evolução dos tempos, e o avanço da tecnologia, o homem criou invenções para se comunicarem a distancia, e sua primeira invenção foi o telefone, que gerou muitos empregos nas centrais telefônicas, com as telefonistas. E a primeira capital brasileira a se instalarem foi o Rio de Janeiro, em 1877, trazendo muita curiosidade para a população, as conversas telefônicas eram gravadas. Dessa forma era só ligar para a telefonista que dizia: um número, por favor, e logo em seguida o dialogo era exercido.
Outra criação que desde sua invenção é sucesso é a rádio, as pessoas se apaixonavam por ouvir aquelas vozes, criavam ídolos, se informavam e se entreteram. O contato das pessoas com a imagem chega aos anos 40, “que maravilhoso podemos assistir as novelas”. E a intensidade das imagens envolvia cada vez mais as pessoas, as noticias ganhavam credibilidade com as cenas mostradas, surgia o mundo das telenovelas...
Da telinha da televisão até as telas do computador: entramos no mundo da informação, com a internet acabamos com as barreiras das distancias, estamos ligados a tudo e tudo está interligado a nós.

Fernanda Hally
5º período noite.

Andreia Regina disse...

Artigo bastante esclarecedor. As contribuições são substantivas para pesquisadores de outras áreas que estão iniciando reflexões em torno da tv digital.
Parabéns pela iniciativa.